terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Da série "Explicando com figuras"

Lição do dia: como funcionam as discussões entre psicólogos:
A sensação é mesma.

Editorial da Folha de São Paulo: RAZÃO E PRECONCEITO (sobre a pesquisa com os meninos da FASE)

Editorial da Folha de S.Paulo: RAZÃO E PRECONCEITO

Enviesada e precipitada: é o mínimo que se deve dizer da nota de repúdio de uma centena de psicólogos, advogados, antropólogos e educadores contra estudo biológico sobre comportamento violento de 50 jovens infratores no Rio Grande do Sul. O projeto nem foi submetido a um comitê de ética em pesquisa, mas os signatários já lhe atribuem "velhas práticas de exclusão e de extermínio" e "retrógradas práticas eugenistas".

O grupo da PUC-RS e da UFRGS planeja comparar jovens sob custódia do Estado que cometeram homicídios antes dos 18 anos com outros sem registro de violência. Entram na comparação histórico familiar e educacional, psicodiagnóstico, imagens do funcionamento do cérebro e variações genéticas, entre outros aspectos.
O protocolo da pesquisa prevê obtenção de consentimento dos jovens estudados, de familiares e até do Poder Judiciário. Nada garante que identifique correlações significativas. Excluí-las de antemão, contudo, só ocorre a quem nega a priori que eventos cerebrais sejam relevantes para explicar o comportamento. A um determinismo biológico opõem outro, o do ambiente social.

A censura é uma reação estereotipada à associação de biologia com comportamento. No século 19 e no início do 20, de fato, a suposição atabalhoada de uma relação causal entre características físicas (inclusive "raça") e capacidade mental, sem base real, produziu monstruosidades. Essa pseudociência foi demolida com argumentos teóricos e resultados empíricos, como convém. Não é o que se observa agora.

Nas "Regras para a Direção do Espírito", Descartes alertava já em 1628 que prevenção e precipitação são as grandes fontes do erro. Ao estigmatizar o estudo com noções preconcebidas, os autores da nota advogam proibição incompatível com a busca do conhecimento.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Naturalismo científico

Para realizar a investigação científica, são necessários alguns pressupostos: a Natureza é material, e, portanto, mensurável objetivamente e passível de ser conhecida através de um método controlado. Pode ser que a realidade não se limita à Natureza ou à matéria, e então existiriam realidades sobrenaturais que transcendem a matéria e não se limitam ao observável. Mas como isso tornaria muito difícil de se confirmar e validar qualquer conhecimento como verdadeiro, para a utilização do método científico nós assumimos que só o que existe é a Natureza composta de matéria.
Para estudarmos alguma coisa, então, ela tem que ser feita de matéria, e temso que ter evidências de que ela existe. Por isso que não dá pra estudar Deus, anjos ou fantasmas. As pessoas também estudam conceitos puramente abstratos, como lógica ou epistemologia. Mas isso é filosofia, e não ciência. A lógica não é uma caixinha ou um palitinho.
Desde Darwin, e com os avanços nas neurociências, passamos a superar a idéia de Kant e Descartes de que a mente é de uma natureza diferente da matéria e não pode ser estudada. A natureza da mente ainda é controversa, mas já é consenso entre os estudiosos mais avançados de que ela é produto do cérebro. Acaba a arrogância humana de se considerar com uma mente perfeita e racional, que transcende aos limites do mundo natural e nos coloca como superiores ao imenso restante do reino animal. Entretanto, nem todos os psicólogos agem como naturalista, apresentando idéias dualistas e outros preconceitos religiosos.
Muitos se sentem ofendidos de serem feitos de carne, ou de terem alguns comportamentos matematicamente previsíveis, e muitos ainda acham que isso estigmatiza, imaginandoque biológico é igual a imutável, a exemplo de preconceitos respaldados com teorias biológicas que já foram falseados.
Eu, no entanto, sempre achei essa idéia muito linda. Sempre tive um rlativo contato com idéias de religiões pagãs e filosofias orientais, que nos consideram como parte integrante e harmônica da Natureza. A minha predileção por ciência e pela busca da verdade faz com que eu me emocione ao saber que eu não sou diferente de crianças, mulheres, golfinhos e sapinhos, e faz eu me sentir responsável por eles também, a exemplo dessas religiões não-abraamânicas. Sem contar que saber de forma confiável sobre a natureza humana é muito útil, além de bonito.
É essencial a postura naturalista para o conhecimento científico da mente humana, e isso não significa que se 'naturaliza', no sentido de considerar como dado, certo e imutável, fenômenos sociais. Pelo contrário, o pensamento científico problematiza tudo isso e levanta hipóteses. E até a etologia lança grandes luzes sobre a política, muito mais do que preconceitos filosóficos de franceses preocupados apenas em quebrar paradigmas, sem se importar se é real ou não.

Apresentação

Eu, sinceramente, não se ente isso não passa de um comportamento imitativo dos mais patéticos, mas é também uma forma de exercitar a escrita pra quem está de férias e um pouco destreinado.
Devo dizer que sinto-me honrado de receber a alcunha de 'amolador de facas', embora eu tenha demorado para ser aceito no grupo, sob a alegação de ter 'um bom coração'. De fato, eu tenho essa fama, mas a minha etiqueta e posições políticas não deveriam ser motivo para eu não pertencer ao grupo. Como argumentei em meu outro blog, um vegetariano pode até fazer um epistemólogo chorar. Meus colegas sabem disso.
Além do mais, eu também sou avesso a interpretaços psicanalíticos e bonecos de palha pós-modernos, e ainda mais com o discurso derrotista de que a Verdade não existe. Gosto um monte de ciências biológicas, política e filosofia moral. Admiro Darwin, Bowlby, Bandura, Piaget, Kohlberg, Foucault(acreditem), Lapassade, Baremblitt, Dawkins, Dennett e autoras feministas como a Andrea Dworkin. Meus filósofos favoritos são Sócrates, Platão, Kant e o Buda. Não gosto de sofistas. Recomendo a leitura de Os Super-Heróis e a Filosofia, de Tom Morris. Nerdismos também me interessam. HQ ou mangá.
Queria dizer também que acho o nome 'Amoladores de Facas' muito bonitinho. Ele pode significar as 'another brick in the wall' relatadas na Cidade dos Sábios, mas também o nosso espírito crítico e busca pelo aperfeiçoamento e pela verdade. Ou também o fato de usarmos a Navalha de Occam. Se vocês procurarem na internet vão descobrir que precisa ser muito habilidoso pra ser um amolador de facas. São raros.
Enfim, falaremos de ciência e epistemologia e criticaremos bastante. Leitores estão livres para isso também.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Apresentação

Inspirado pelo amiguinho Rockeiro Alcoólatra, aliás, citado por ele em seu comentário, resolvi fazer minha pequena apresentação. Tenho 27 anos, estou espalhado nos primeiros anos da Psicologia (e provavelmente continuarei assim, por enquanto :) e sou engenheiro eletricista e mestrando em ciência da computação. O que essa atividades têm em comum é tema para outro post... Também tenho meu próprio blog, Filosofias Diversas [1], o qual eu atualizo uma vez na vida, outra na morte...

O texto do meu amiguinho me deprimiu (parapsicologia foi f*...) mas esse fato é freqüente na psicologia... Não me acho um amolador "paradoxal", nem "ortodoxo", mas realmente preciso por critérios epistemológicos claros. Uma coisa que particularmente me irrita na psicologia é a utilização da palavra "ciência" (deixaremos o tema "física quântica" para outra oportunidade :) Mas esse é só uma apresentação, então ainda não será destilado todo o veneno que corre nessas veias amoladoras.

Não me esforço tanto em ser tolerante, até porque a maior parte da psicologia não merece sequer esse esforço... Mas também não sou partidário de generalizações, então não acho que nenhuma linha teórica mereça ser desconsiderada a priori. Claro que, pragmaticamente falando, algumas áreas têm tendências altamente anti-científicas e seus ilustres membros ainda pretendem que as mesmas sejam encaradas como ciência. Também não gosto de donos da verdade e de abordagens "ou eu ganho, ou você perde", presentes em alto grau na psicologia. Aliás, a falácia é a principal forma de expressão dos amiguinhos (futuros) psicólogos.

Gosto bastante do evolucionismo e suas implicações filosóficas, psicológicas e, claro, biológicas. Aliás, a minha visão de santíssima trindade atual para amoladores é Dennett-Dawkins-Pinker. Observando o velho testamento, encontraremos nomes como William James, Charles Darwin, Karl Popper... Aprecio também todos os rótulos normalmente distribuídos para amoladores (reducionista, biologizante, cientificista, etc), sendo que os considero elogios sinceros :) Em termos mais aplicados, me interesso por neurociências, psicologia evolucionista, teoria computacional da mente e psicologia cognitiva (comportamental).

Prazer, eu sou o jeffbass e deixo uma frase amoladora abaixo.

“O maior pecado contra a mente humana é acreditar em coisas sem evidências. A ciência é somente o supra-sumo do bom-senso – isto é, rigidamente precisa em sua observação e inimiga da lógica falaciosa.” Thomas H. Huxley

1 - Blog Filosofias Diversas

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Idéias para um Experimento

Este é um blog científico, tão científico quanto a Psicologia pode ser. Não é muita coisa, mas já é um começo. Levando isto em conta, pensei que seria apropriado escrever as idéias para experimentos psicológicos que forem surgindo na minha mente, como exercício lógico. Os leitores podem criticar possíveis fraquezas das pesquisas e dar sugestões para cobrí-las.

Tive a presente idéia durante um almoço em família, e envolve habilidades gustativas. A dúvida que me ocorreu foi: todos os refrigerantes de cola tem o mesmo gosto? As pessoas são capazes de diferenciar entre um e outro? Para responder esta pergunta, primeiro compraríamos três garrafas de refrigerantes de cola: Coca-Cola, Pepsi-Cola e Fruki-Cola, por exemplo. Depois, colocaríamos os líquidos em garrafas diferentes e atribuiríamos números a cada uma delas (Coca 01, Pepsi o2 e Fruki 03). Depois, aplicaríamos um teste Duplo-Cego, pedindo para que um colaborador, que não saiba quais são as marcas envolvidas, desse pequenas doses para pessoas experimentarem das três garrafas. Depois de provar cada uma delas, o entrevistado (ou sujeito) diria que marca ele acabou de consumir. Para evitar possíveis distorções, não informaríamos se ele acertou ou errou. Depois de coletados os dados, faríamos uma análise estatística dos erros e acertos, e conferiríamos nossas hipóteses.

Este procedimento pode ser utilizado para testar qualquer tipo de bebida, especialmente cerveja, que pra mim tem tudo o mesmo gosto.